Correio de Carajás

Piloto do maior avião comercial do mundo será homenageado em Marabá

Comandante João Anastácio de Queiroz Neto vai receber comenda de Honra ao Mérito na sessão solene desta quarta-feira, na Câmara Municipal de Marabá

João Anastácio é hoje piloto da Emirates e comanda o maior avião comercial do mundo

O comandante João Anastácio de Queiroz Neto ficou conhecido em 2017 por trazer o maior avião de passageiros do mundo para o Brasil, o Airbus A380, pela Emirates. Ele também foi o piloto mais jovem de Boeing 767 no Brasil, assumindo o posto de primeiro-oficial aos 19 anos.

Pois bem, às vésperas do aniversário de 111 anos de Marabá, João Anastácio, hoje com 50 anos de idade, será um dos 25 homenageados na sessão solene da Câmara Municipal de Marabá nesta quarta-feira, 3, a partir de 9h30. Ele arranjou espaço em sua agenda apertada de viajante pelo mundo para vir à terra onde foi criado até os 11 anos de idade, como neto de um dos prefeitos que governou Marabá por mais tempo: João Anastácio de Queiroz, que faleceu em 1945.

João Anastácio: “Uma das maiores emoções da minha vida foi retornar a Marabá como piloto e ser recebido por minha família”

João tem uma história de vida parecida com a de muitos jovens que sonham um dia em se tornar piloto. Nascido em Goiânia e criado no Estado do Pará, foi um dos mais jovens pilotos de Boeing 767 da TransBrasil, aos 19 anos. Pouco tempo depois recebeu o convite para trabalhar na Varig, onde voou como primeiro-oficial até 2006, até que decidiu deixar o país em busca de novas conquistas.

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Abaixo, veja trecho da entrevista concedida por ele para a Revista Aeroin:

AEROIN: Comandante, para começarmos esse bate-papo nos conte um pouco da sua jornada?

JOÃO ANASTÁCIO: Minha mãe é mineira, meu pai é paraense e eu nasci em Goiânia, em 1972. Fui criado no Pará até os 11 anos, na cidade de Marabá pelos meus pais, e depois até os 18 anos em Belém, pelos meus tios Almir e Altair Trindade, meus segundos pais.

Comecei meus estudos como piloto no Aeroclube do Pará aos 16 anos e, em 1990, aos 18 anos, fui para São Paulo tentar uma vaga em uma das grandes empresas de aviação comercial. Fui aprovado em 1991, aos 19, na seleção para a TransBrasil, onde fiz o curso para voar o Boeing 737, mas no final a empresa me comunicou que eu seria alocado como primeiro-oficial no Boeing 767. Isso tudo foi muito rápido e marcante.

Em 1992, durante minha instrução no Boeing 767, a Varig confirmou minha aprovação em seu processo seletivo. Resolvi começar tudo de novo, e em agosto de 1992 iniciei o Curso de Formação de Pilotos da Escola da Varig, na turma 30 da Evaer. Na Varig voei os Boeing 737-200/300 e 700, Boeing 767 e Boeing 777. Quando veio a crise da empresa, resolvi esperar até o final para ver o resultado, que todos nós já sabemos qual foi.

O piloto marabaense aponta para o jumbo, avião que pilota mundo afora

AEROIN: Quem mais te apoiou nessa brilhante caminhada?

JQ: Minha família sobretudo foi a grande incentivadora, em especial o meu tio Adão Ubiratan, que mora em Goiânia e é um grande apaixonado pela aviação. Também tive o apoio de muitos amigos que me ajudaram e sempre gosto de lembrar de alguns deles.

Um exemplo é o comandante Junqueira, proprietário da Juta Taxi Aéreo, que sempre me motivou, desde meu tempo de criança. Também meus amigos Marcos Rossy, que me levou pela primeira vez ao Aeroclube do Pará; Paulo Renato, que foi um dos grandes responsáveis pelo meu primeiro emprego como piloto comercial em São Paulo e Francisco Cabral, que praticamente me guiou no início da carreira e me apresentou São Paulo. Enfim, sem os amigos não sei como tudo teria sido possível.

AEROIN: Olhando para trás, que momento da sua carreira você lembra como o mais marcante?

JOÃO ANASTÁCIO: Durante os anos que morei em Marabá, quando criança, eu ia ao aeroporto e via os 737 pousando. Isso alimentava o sonho de um dia ser piloto e voar aquele tipo de aeronave. Eu era muito amigo do Adailton, mecânico da VARIG, e ele me levava para o pátio para acompanhá-lo a fazer a checagem externa. Também me levava à cabine e eu me encantava com aquela experiência toda.

Anos depois, já formado piloto, retornei a Marabá voando, como primeiro-oficial da Varig, meus pais e alguns amigos conseguiram autorização para me aguardar no pátio. Quando eu cheguei foi uma grande festa! Foi um dos momentos mais marcante na minha vida!

AEROIN: Quando a Varig cessou você decidiu sair do país?

JOÃO ANASTÁCIO: Confesso que fiquei um pouco decepcionado com a aviação brasileira e então resolvi buscar novos horizontes, novos desafios fora do Brasil. Fiz algumas seleções e, ao final, optei pela Emirates, que me ofereceu um bom contrato de trabalho associado a uma boa qualidade de vida.

Ser o primeiro comandante a trazer o A380-800 ao Brasil fez o marabaense subir de patamar na aviação mundial

AEROIN: Em quais aeronaves você atuou até chegar no superjumbo A380?

JOÃO ANASTÁCIO: Comecei na Emirates em julho de 2007 voando A330 e A340, como primeiro-oficial. Em 2009 fui transferido para o A380 e acredito que na época a empresa possuía apenas cinco aeronaves do modelo na frota. Fui o segundo Brasileiro a voar no A380, depois do meu saudoso amigo Pavel Bersan, de Belo Horizonte.

Em 2012 aceitei o convite para retornar à frota do A330 como comandante. Fiz todo o processo de instrução de comando e fiquei no A330 até o início de 2016, quando me chamaram para voltar ao A380, já como comandante. Assim, estou praticamente há um ano como comandante no A380.

 AEROIN: Comandar o A380 é muito diferente das outras aeronaves?

JOÃO ANASTÁCIO: O A380 é uma máquina maravilhosa de voar. O que existe de melhor em tecnologia está presente nesta aeronave. Na cabine de comando, às vezes, você não vê tantas diferenças, mas é uma aeronave bem confortável. Impressiona pelo tamanho e pela quantidade de pessoas que pode levar. São até 615 passageiros e nos voos mais longos são 4 pilotos (2 comandantes e 2 primeiros oficiais), e 26 tripulantes de cabine.

Mas a grande diferença no A380 está no cuidado especial com a aeronave quando em solo devido ao seu tamanho, pois são quase 80 metros de envergadura de asas. O comandante precisa ter um cuidado especial ao taxiar.