Correio de Carajás

Mostra Mulheril celebra 20 anos da Galeria Vitória Barros

Os diversos espaços da Galeria Vitória Barros, neste mês de março, têm mais do que as digitais das mulheres, mas também as marcas de uma instituição que serve de laboratório de produção e inspiração ao longo de duas décadas em Marabá, tanto para mulheres quanto para homens.

Na noite da última sexta-feira, 11, foi realizada a abertura da 5ª Exposição Mulheril, em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, mas também para celebrar os 20 anos da Galeria Vitória Barros, um dos espaços mais longevos da arte no município. Personalidades de diversos segmentos participaram do evento e fizeram uma reflexão sobre a produção artística e o protagonismo feminino ao longo dos últimos 20 anos na cidade.

Mostra contou com depoimentos, música e poesia durante a abertura

A cerimônia contou com participação de alunas mulheres que participam ou participaram de aulas de artes na galeria. Entre elas, Isaura Milhomem, a qual revelou que seu sonho era aprender a tocar acordeom, o que foi realizado na Galeria Vitória Barros. “Eu queria muito tocar na minha igreja e consegui”, testemunhou.

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Lidiane Lima deu depoimento de gratidão pela inclusão do filho surdo nas aulas de artes, enquanto a professora Luciene, do CAES (Centro Especializado na Área da Surdez) atuou como intérprete de Libras (Língua Brasileira de Sinais).

Uma das obras que compõem a Mostra e que fazem reflexão sobre o papel da mulher na sociedade

A artista Vitória Barros, que empresta seu nome à galeria, explica que, em sua quinta edição, a mostra Mulheril surgiu de uma exposição chamada “Mulher imagem, mulher signo” que chamava a atenção de elementos da cultura visual na representação da mulher na grande mídia. Àquela época, foram selecionados recortes de revistas de circulação nacional e até mesmos aqueles clássicos papéis com piadas redigidas à máquina, frequentemente com conteúdo de cunho duvidoso. “Havia também trechos de textos retirados da internet sobre mulheres inspiradoras e, obviamente, artistas mulheres. Esse ponto foi estimulante. Compreender que haviam que haviam mulheres tão inspiradoras quanto Tarsilas e Fridas bem aqui, ao lado, compartilhando o mesmo tino na vivência da vida”.

“Temos uma bela coleção de arte paraense em formação e, perceber que 40% deste é constituído por mulheres também é inspirador, enquanto temos grandes acervos institucionais sendo questionados onde estão as mulheres no museu, se nuas ou na reserva, podemos nos orgulhar de construirmos um caminho contrário”, reflete a artista ao lado de outras colegas que fazem parte da curadoria do Mulheril deste ano.

Essa outra obra, provocativa, também está na exposição que segue até final de abril

Por fim, justifica que a Galeria Vitória Barros é um espaço matriarcal, constituído majoritariamente por mulheres: Paulas, Hellens, Iêdas, Natachas, Vitórias, Anas… “E por aí seguimos, criando oportunidades para que novas mulheres possam estar aqui também, compartilhando de experiências artísticas saudáveis, com o conforto de serem acolhidas por sororidade”.

A apresentação da exposição já adverte que a Galeria completa 20 anos de (r)existência. “São duas décadas dedicadas à arte e à cultura marabaense. E nada melhor para comemorar essa história do que revê-la a partir dos seus melhores momentos, e escolhemos o Mulheril para trazer esse gostinho de memória”.

A exposição traz obras do acervo do Instituto de Arte Vitória Barros e outras produções mais atuais de algumas convidadas. Os visitantes podem acompanhar trabalhos de Dona Z, Vitória Barros, Lara Borges, Silvia Helena Cardoso, Rayda Lima, Suely Gomes, Mira Bischoff, Thaís Vivacqua, Alexandra Duarte, Regina Suriane, Suely Gomes, Eliene Tenório (de Belém), Bianca Levy, Líris Pimentel, Paula Corrêa, Rose Pinheiro, Carla Beltrão, Cinthya Marques, Keyla Sobral, Natacha Barros e Creusa salame (in memoriam).

Dois homens participaram do evento de abertura da Mostra Mulheril. Lucas Cavalcanti, professor de música, tocou várias canções para elas, enquanto Bertin di Carmelita, que na poesia “O Dia Seguinte” fez questionamentos sobre a valorização da mulher, por parte dos homens e instituições, apenas no Dia Internacional da Mulher.

SARA-CURA

A contribuição de Vitória Barros à Mostra é por meio de um trabalho tridimensional, batizado de Sara-Cura”, uma releitura de um pássaro que habitava as margens dos rios da região, que tem um zelo especial pelo ninho e seus filhotes, como uma mãe.

Sara-Cura, a nova obra da artista Vitória Barros, que dá nome à galeria

O nome, segundo ela, é uma simbologia do que acontece no mundo inteiro como uma prática ou pendor de sarar e curar as pessoas, como atributo especial da mulher.

“O pássaro Saracura, utilizado como parâmetro na analogia, tem um déficit no potencial de voo, que no entender da artista, é análogo ao poder da mulher que, dispondo cognitivamente de asas, não voa por diversos fatores, os quais lhes aprisionam como raízes e/ou garras: filhos, maridos, profissões e opções pessoais”, sintetiza.

A visitação à Mostra Mulheril na Galeria Vitória Barros ocorre até o final de abril.

A exposição também traz obras escritas sobre mulheres