Correio de Carajás

Espiã russa fingia ser uma socialite na Itália para se infiltrar na Otan

Durante dez meses de investigação, o jornal italiano ‘La Repubblica' em parceria com Bellingcat e The Insider revelou que Olga Kolobova vivia infiltrada na Otan, em Nápoles - a principal aliança político-militar do Ocidente

"Maria Adela" com amigos em 2010(foto: Marcelle D’Argy Smith/ Bellingcat)

María Adela Kuhfeldt Rivera dizia ser uma socialite nascida no Peru e com pai alemão. Porém, uma investigação do jornal italiano ‘La Repubblica’ em parceria com Bellingcat e The Insider revelou, nesta sexta-feira (26), que Adela é, na verdade, a espiã russa Olga Kolobova. Filha de um coronel do Exército de Moscou, Olga esteve infiltrada durante quase dez anos como espiã em Nápoles, na Itália.

Segundo dados da investigação de Bellingcat, o paradeiro de Olga Kolobova se tornou desconhecido desde 15 de setembro de 2018, quando comprou uma passagem de ida de Nápoles para Moscou. Desde então, não há informações de Olga deixando a Rússia.

Segundo investigação, que durou dez meses, a espiã estava entre o círculo de influencers do local e conseguiu se infiltrar na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) – a principal aliança político-militar de países do Ocidente, fundada em 1949, à época da Guerra Fria.

Leia mais:

A investigação se iniciou quando, em 2018, o próprio site Bellingcat divulgou os nomes de Ruslan Boshirov e Alexander Petrov, dois espiões da agência militar de espionagem russa, o GRU (Glavnoye Razvedyvatel’noye Upravleniye, ou serviço secreto militar russo).
Estes dois homens foram responsáveis pelo envenenamento do agente Novichok em Salisbury, na Inglaterra, do exilado russo Sergey Skripal e de sua filha. No dia seguinte da publicação, Olga volta para Rússia e nunca mais é vista como María Adela.

Tecnologias de reconhecimento facial foram capazes de relacionar fotos de “Maria Adela” com Olga e a investigação descobriu que Olga usava a mesma foto do facebook de “Adela” como foto de perfil no Whatsapp do seu número real. Isso, ao lado de todas as outras sobreposições, foi suficiente para revelar sua verdadeira identidade.
Além disso, sua ligação com o GRU e com os outros dois agentes, Ruslan Boshirov e Alexander Petrov, foi descoberta pelos números dos passaportes, que tinham apenas um dígito de diferença entre eles e já tinham sido usados em outras operações do serviço russo.

A criação de María Adela

Em 8 de agosto de 2005, o Cartório de Registro Civil do Distrito de Independência em Lima, Peru, recebeu um pedido de inscrição da cidadã Maria Adela Kuhfeldt Rivera. A certidão de nascimento era datada de 1º de setembro de 1978. Porém, não precisou de muito para perceber que o documento era falso, pois a igreja só foi fundada em 1987, nove anos após o suposto batismo de “Adela”.

Em 2013, “Adela” criou a sua própria empresa de produção e venda de joalharia de luxo, a Serein SRL, em Nápoles. Com empresa própria e loja funcionando, a espiã tornou-se secretária do grupo internacional da sociedade civil Lions Club, uma organização internacional de clubes de serviço. Olga iniciou seu processo de criar uma vida social ativa e foi nesse momento em que começou a criar amizades com membros da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e até chegou a se relacionar com um funcionário desta organização.

Até hoje, não se sabe se os serviços de inteligência ocidentais ou o próprio serviço de segurança interna da Otan estivessem cientes da presença de um espião militar russo colocado estrategicamente perto do Centro de Comando das Forças Conjuntas da Otan na Europa.

(Fonte: O POVO)