Correio de Carajás

A saga da nadadora marabaense que trouxe 5 ouros do Ceará

A atleta é movida pela vontade de ganhar. A natação tem lhe ajudado em outros desafios da vida

Como o próprio nome já sugere, Elisa Vitória Lopes Lima, 12 anos, venceu cinco disputas no Campeonato Cearense de Paranatação – II Troféu Edvaldo Prado, trazendo para Marabá cinco medalhas de ouro e uma de prata. A menina, que é estudante do 7º ano na escola EMEF Josineide da Silva Tavares, mora no Bairro Jardim União, Núcleo Cidade Nova e transbordando orgulho, concedeu uma entrevista repleta de sorrisos para a Reportagem do CORREIO, na manhã desta segunda-feira, 27.

O campeonato aconteceu nos dias 25 e 26 de março (sábado e domingo, respectivamente), em Fortaleza (CE). Na manhã desta segunda, a menina já estava em Marabá, treinando, e à tarde, já retornou à sua rotina como estudante.

Durante a entrevista, o brilho no olhar e o sorriso de orgulho no rosto não passaram despercebidos. Ela nasceu com deficiência nos dois braços e nas duas pernas, e afirma que a condição não representou nenhum desafio na sua vida como nadadora. “Eu acho que tudo depende da pessoa, se ela quer ou não aprender”, reflete com uma maturidade que chama a atenção.

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Para a reportagem, Elisa conta que aprendeu a nadar aos 7 anos, quando ingressou na Associação Paralímpica de Marabá (APM). Os professores à frente da AMP visitaram a escola onde a adolescente estudava naquela época, e perguntaram para Eliana Lopes da Silva, dona de casa e mãe orgulhosa da jovem atleta, se ela gostaria que a menina participasse do projeto. “Me fizeram a proposta, se eu queria que ela participasse da associação deles, pra ela começar a nadar e eu falei que queria”, relembra a genitora.

Foi na piscina do Colégio Alvorada onde ela deu suas primeiras braçadas e onde treina até hoje, três vezes por semana por uma hora. Para chegar até lá, a associação disponibiliza um carro para a sua locomoção entre a residência e o Alvorada. Questionada pela Reportagem se a filha recebe algum auxílio do governo para ajudar em sua trajetória como atleta, Eliana responde que apenas o benefício assistencial destinado às pessoas com deficiência e nada além disso.

Para ir para a competição em Fortaleza, todavia, recebeu ajuda valiosa da SEMED (Secretaria Municipal de Educação).

Ao contemplar as vitórias da filha, Eliana afirma que a família sente orgulho e felicidade pelas conquistas.

A jovem atleta divide a casa com outras cinco pessoas, que transbordam alegria e orgulho por suas conquistas

TRAJETÓRIA

Foi somente em 2022 que a atleta mergulhou no mundo das disputas esportivas. “Agora que eu vim me aprofundar na competição, a primeira mesmo foi no Alvorada. Aí, quando foi em maio, eu fui para uma que tinha gente com deficiência, em Belém”, ela complementa explicando que na disputa anterior, seus adversários eram pessoas sem deficiência.

Quando procurada pela reportagem se a prática do esporte mudou algo em sua vida, ela responde afirmativamente. “Fazer mais esforço, viajar muito, deu um ar diferente”, e detalha que foi uma experiência a mais para sua vida escolar. “Querendo ou não é outro aprendizado, a gente aprende muito nessas competições. Aprende a aceitar a derrota e é bom”, ressalta. Apesar da reflexão, ela dá um sorriso perspicaz, ao contar para a Reportagem que gosta de ganhar.

“Eu me senti bem, treinei muito para isso”, afirma a menina ao ser questionada como se sentiu ao ganhar suas seis medalhas. “O técnico Arionaldo Reis ajudou bastante, às vezes a gente fica nervosa, mas dá tudo certo”, destaca.

Para alcançar o excelente resultado, ela garante que são necessárias muitas horas de treino. Atualmente, a atleta pratica natação três vezes na semana, durante uma hora e concilia a vida de estudante – no período da tarde – com a de esportista – nos treinos pela manhã.

SAIBA MAIS

Para o Ceará, Elisa foi acompanhada de sua treinadora e teve as passagens – e apoio para a viagem – custeadas pela Secretaria Municipal de Educação.

Lá, ela competiu na classe S3, que abrange nadadores com amputações de braços e pernas, capazes de realizar o movimento de braçada. Aqui o termo “amputação” abrange as pessoas com deficiência congênita, como é o caso de Elisa.

No sistema de classificação desportiva, vale a regra de que quanto maior a inferência que a deficiência tem sobre o gesto técnico, menor o número da classe. As classes começam sempre com a letra S (swimming), onde a letra S representa estilo livre, borboleta e costas.

No Campeonato Cearense de Paranatação – II Troféu Edvaldo Prado, a menina faturou cinco medalhas de ouro nas modalidades: 50m livre, 50m borboleta, 50m peito, 100m livre e 200m livre. E uma medalha de prata nos 50m costas. Com os resultados, a atleta garantiu o 2º lugar como “eficiência feminina”.

“Eu não achava que era boa no esporte, mas acredito que a gente tem que tentar primeiro, né? Porque se a gente não tentar, como vamos conseguir? É a mesma coisa de jogar na Mega Sena, como você quer ganhar se não joga? Tem de tentar”, finaliza Elisa Vitória. (Luciana Araújo)