Correio de Carajás

Sobreviventes do Massacre de Eldorado relembram fatos importantes daquele 17 de abril

A Reportagem do CORREIO esteve na ‘Curva do S’, na Rodovia BR-155, na manhã desta terça (17), onde um evento foi realizado em memória aos 21 trabalhadores rurais que morreram durante ação da Polícia Militar, em 1996. Sobreviventes que participaram do Massacre de Eldorado do Carajás, conversaram com nossa equipe e rememoraram alguns fatos daquele dia.

Josimar Pereira de Freitas, da Associação de Sobreviventes do Massacre, conta que eles estavam em 27 grupos de famílias, que possuíam por volta de 45 a 70 pessoas em cada grupo. “Nos dividimos, 13 ficaram aqui e outros 14 grupos foram para o outro lado”, conta.

O sobrevivente conta que a Polícia Militar cercou dos dois lados, de Marabá e Eldorado. “Quem presenciou o massacre foi o pessoal de Marabá, saíram matando, atirando e empurrando o pessoal para trás. Muita gente caída na pista. Eu fui alvejado na perna direita, não vi quem atirou em mim, quando fui me mexer, caí e só aí percebi que estava machucado”, relembra.

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Vendo amigos serem mortos, o clima de desespero tomou conta do local e, segundo Josimar, os trabalhadores deixaram claro que não queriam guerra, queriam apenas um pedaço de terra. “Foi de uma crueldade sem tamanho. A força militar tem mecanismos para desobstruir sem chacina. Tem spray de pimenta, jato d´água, bomba de gás lacrimogêneo entre outras coisas, que podem machucar e não matar. Eles conseguiriam nos tirar da pista de outra forma”.

Nesta época, os trabalhadores lutavam pela desapropriação da Fazenda Macaxeira, inclusive era este o nome do acampamento e, de acordo com ele, muitos idosos, crianças, grávidas e até pessoas com necessidades especiais estavam no local e foram vítimas do massacre. “Um companheiro nosso, o Amâncio, morreu porque era surdo, gritávamos para ele se afastar, mas ele não podia ouvir. Foi morto cruelmente”, conta, inconformado.

Outro sobrevivente é Antônio Francisco do Carmo, 61 anos, que no dia 17 de abril de 1996, estava no local com o cunhado, que levou um carro de som para a manifestação. Seu veículo foi destruído pela polícia, que atirou contra o carro, furou os pneus e retirou o aparelho de som.

#ANUNCIO

“Fomos convocados para acompanhar a caminhada, vindo de Parauapebas. Após algumas horas os policiais chegaram para conversar e pediram para que liberássemos a estrada. Afirmamos que ela seria liberada se mandassem um carro para a gente ir até Marabá, se reunir com o pessoal do Incra”, conta.

Ele conta que por volta das 15 horas atravessaram uma carreta na estrada, fazendo com que os policiais fechassem dos dois lados. “Um rapaz surdo-mudo jogou uma faca que pegou no colete de um dos policiais, foi nessa hora que começaram a atirar. Ele já caiu morto, começou o tiroteio e uma correria, gritaria sem fim, foi aterrorizante”.

Conseguindo fugir por uma vicinal que segue para o município de São Geraldo, Antônio soube somente no outro dia, que haviam matado mais de 19 pessoas.

Participação

As ações em memória ao massacre, contam com as participações de sobreviventes, movimentos sociais e estudantes universitários. Jerônimo de Silva, professor e assessor do Gabinete da Reitoria da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), também participou e contou que a instituição tem um papel importante junto aos movimentos sociais, sindicais e com a sociedade em geral.

“Esse momento representa uma luta não só contra o que aconteceu, mas também pela renovação da luta que isso representa. Temos visto acontecer no Brasil uma repetição desses massacres e isso significa que a sociedade ainda não é consciente das desigualdades que acontecem”. O vereador de Marabá, Gilson Dias, que participa pela terceira vez do ato, reiterou a importância da manifestação, já que o estado do Pará é campeão na violência no campo.

“Os trabalhadores precisam se organizar e chamar a atenção da justiça, para que os culpados sejam punidos”, finalizou. A pista foi liberada por volta das 12 horas e a programação se estende por todo o dia. (Ana Mangas, com informações de Josseli Carvalho)

A Reportagem do CORREIO esteve na ‘Curva do S’, na Rodovia BR-155, na manhã desta terça (17), onde um evento foi realizado em memória aos 21 trabalhadores rurais que morreram durante ação da Polícia Militar, em 1996. Sobreviventes que participaram do Massacre de Eldorado do Carajás, conversaram com nossa equipe e rememoraram alguns fatos daquele dia.

Josimar Pereira de Freitas, da Associação de Sobreviventes do Massacre, conta que eles estavam em 27 grupos de famílias, que possuíam por volta de 45 a 70 pessoas em cada grupo. “Nos dividimos, 13 ficaram aqui e outros 14 grupos foram para o outro lado”, conta.

O sobrevivente conta que a Polícia Militar cercou dos dois lados, de Marabá e Eldorado. “Quem presenciou o massacre foi o pessoal de Marabá, saíram matando, atirando e empurrando o pessoal para trás. Muita gente caída na pista. Eu fui alvejado na perna direita, não vi quem atirou em mim, quando fui me mexer, caí e só aí percebi que estava machucado”, relembra.

Vendo amigos serem mortos, o clima de desespero tomou conta do local e, segundo Josimar, os trabalhadores deixaram claro que não queriam guerra, queriam apenas um pedaço de terra. “Foi de uma crueldade sem tamanho. A força militar tem mecanismos para desobstruir sem chacina. Tem spray de pimenta, jato d´água, bomba de gás lacrimogêneo entre outras coisas, que podem machucar e não matar. Eles conseguiriam nos tirar da pista de outra forma”.

Nesta época, os trabalhadores lutavam pela desapropriação da Fazenda Macaxeira, inclusive era este o nome do acampamento e, de acordo com ele, muitos idosos, crianças, grávidas e até pessoas com necessidades especiais estavam no local e foram vítimas do massacre. “Um companheiro nosso, o Amâncio, morreu porque era surdo, gritávamos para ele se afastar, mas ele não podia ouvir. Foi morto cruelmente”, conta, inconformado.

Outro sobrevivente é Antônio Francisco do Carmo, 61 anos, que no dia 17 de abril de 1996, estava no local com o cunhado, que levou um carro de som para a manifestação. Seu veículo foi destruído pela polícia, que atirou contra o carro, furou os pneus e retirou o aparelho de som.

#ANUNCIO

“Fomos convocados para acompanhar a caminhada, vindo de Parauapebas. Após algumas horas os policiais chegaram para conversar e pediram para que liberássemos a estrada. Afirmamos que ela seria liberada se mandassem um carro para a gente ir até Marabá, se reunir com o pessoal do Incra”, conta.

Ele conta que por volta das 15 horas atravessaram uma carreta na estrada, fazendo com que os policiais fechassem dos dois lados. “Um rapaz surdo-mudo jogou uma faca que pegou no colete de um dos policiais, foi nessa hora que começaram a atirar. Ele já caiu morto, começou o tiroteio e uma correria, gritaria sem fim, foi aterrorizante”.

Conseguindo fugir por uma vicinal que segue para o município de São Geraldo, Antônio soube somente no outro dia, que haviam matado mais de 19 pessoas.

Participação

As ações em memória ao massacre, contam com as participações de sobreviventes, movimentos sociais e estudantes universitários. Jerônimo de Silva, professor e assessor do Gabinete da Reitoria da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), também participou e contou que a instituição tem um papel importante junto aos movimentos sociais, sindicais e com a sociedade em geral.

“Esse momento representa uma luta não só contra o que aconteceu, mas também pela renovação da luta que isso representa. Temos visto acontecer no Brasil uma repetição desses massacres e isso significa que a sociedade ainda não é consciente das desigualdades que acontecem”. O vereador de Marabá, Gilson Dias, que participa pela terceira vez do ato, reiterou a importância da manifestação, já que o estado do Pará é campeão na violência no campo.

“Os trabalhadores precisam se organizar e chamar a atenção da justiça, para que os culpados sejam punidos”, finalizou. A pista foi liberada por volta das 12 horas e a programação se estende por todo o dia. (Ana Mangas, com informações de Josseli Carvalho)